sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Admiração


Eu estava prestes a começar a escrever sobre o ultimo jogo contra o Mirassol. Vencemos bem e estamos disparados na frente. Acho que não tem necessidade de ficar falando o óbvio aqui.

Mas hoje vou falar sobre admiração. O texto abaixo é do Rica Perrone, um cara que me tornei amigo, depois de tanto ler o blog dele. Eu o acompanho desde a época que nem tinha computador, vivia na lan house acompanhando o programa sobre Formula 1 (rádio f-1 na web).

O Rica é um cara que apesar de torcer para os bambis, é um jornalista que está ha anos-luz no quesito coerência e credibilidade, em relação aos PVC's e Mauro Beting's da vida (que se auto-proclamam palestrinos). E em 2008 tive o prazer de jantar com o Perrone, quando estava de passagem por São Paulo.

Depois disso, pouco pudemos nos falar, mas hoje me senti mais proximo dele, e até mesmo mais proximo daqueles que são os valores mais ricos que eu procuro conservar na minha vida. A minha familia.

Ha pouco tempo perdi uma pessoa que era minha outra mãe. Que tenho certeza que está la em cima, cuidando mais ainda de mim. Minha avó se foi de repente, e eu fui o único que não foi no velório, nem no enterro. E a dor dessa perda vai sempre me acompanhar.

Leiam o texto, que me deu até a impressão estranha de ter sido escrito por mim, de tanto que eu me identifiquei. A diferença é que minha avó torcia para o Santos, mas eu só a via vibrar mesmo pelo verdão, rs.

"Imagine uma pessoa boa e querida.

Agora multiplique isso por 10 e some uma carinha de simpático. Dê uma dose extra de valores e principios a esta pessoa e você estará imaginando meu avô.

Armando Perrone, este era o nome dele. O sujeito mais incrível que já conheci, disparado.

Faleceu há mais de 10 anos, no dia em que eu fui jurar a bandeira pelo exercito.

Ele era Palmeirense, e desde pequeno me enchia o saco por causa do Palestra. Aliás, ele nunca chamou o Palmeiras de Palmeiras. Era Palestra ou “Parmera”, porque o italianão era nato. Sócio do SPFC, chegou a ser dirigente do clube. Só ajudava na sede social do SPFC, e gostava do time, mesmo sendo “parmera!”.

Todo sábado eu ia comer pastel na casa dele. Tinha feira na rua do vô e era uma festa. Pastel, balinhas e refrigerante. Eu amava aqueles sábados de manha mais do que tudo na vida.

Um dia ele me pediu para não ir no seu enterro e velório. Não queria que eu o visse morto. E na semana seguinte, sem o menor indicio de problemas de saude, morreu dormindo. Eu não fui, óbvio!

Naquele domingo em que meu avô querido deixava este mundo, o SPFC venceu o Palmeiras, se não me engano por 2×1. Eu telefonei na casa dele diversas vezes para tirar sarro e ele não atendeu, pois estava longe… muito longe. Eu aguardava um sinal dele para poder brincar com a vitória na segunda a noite quando a minha tia passou no prédio para me buscar e avisar: “Ele não está bem”. Era mentira, ela só não teve coragem de me contar a verdade.

Quando cheguei na casa da minha mãe, meu irmão me disse: “Acabou… ele morreu”.

Nunca mais torci contra o Palmeiras, mesmo sendo um moleque torcedor doente do SPFC.

Era como “secar” a felicidade dele. Me tornei um sãopaulino com raiva zero do Palmeiras. Pelo contrário, passei até a simpatizar. No dia que o Palmeiras ganhou aquela Libertadores, enquanto meus amigos tricolores lamentavam, eu sorria discretamente por imaginar a alegria do velho com o título inédito. Não cheguei a comemorar, mas torci a favor sim.

E para me fazer torcer pro Palmeiras, enquanto garoto imaturo e simplesmente torcedor, precisava de um milagre. Ele conseguiu, mesmo longe daqui. Hoje, jornalista, cansado do meio do futebol e já sem 60% daquela paixão de torcedor, eu praticamente torço a favor dos 12 grandes sempre. Passei a ver futebol diferente e a torcer para que o futebol esteja sempre em alta, e isso requer os grandes vencendo.

Esses dias eu me lembrei. Quando o Palmeiras fez o último gol contra o Santos, eu imaginei a alegria do velho com a goleada. Hoje, almoçando com um amigo, me lembrei de muita coisa sobre o vô…

O quanto a gente é ignorante as vezes por odiar um time ou a torcida deste time. Coisa de moleque, mas que alguns acéfalos levam pra vida toda. O quando somos incoerentes em odiar algo que é parte da alegria das pessoas que mais amamos.

Eu custo a entender a lógica de um daqueles maloqueiros de estádio que cospem, atiram pedras e ameaçam alguém só por ver uma camisa de outra cor. Fico tentando imaginar aquele idiota malandrão chegando em casa minutos depois do jogo e dizendo “eu te amo” pra namoradinha que torce pro time rival.

Porque não arrebenta a cara dela também? É tudo “inimigo”, né?

Bando de imbecis.

Futebol é a melhor coisa do mundo. Sim, melhor que sexo!!! Nunca que um orgasmo pode ser comparado a uma Libertadores em casa nos pênaltis. Tem que ser hipócrita pra dizer isso… rsss

Vamos passar a semana discutindo e aguardando o possível confronto de domingo entre torcedores rivais no Morumbi. Pessoas normais, que se transformam por causa de uma camisa. Pessoas é modo de falar né… aquilo passa longe de ser gente.

Fico imaginando quantas destas pessoas pensariam 10 vezes antes de atirar uma bomba ao saber que um parente seu poderia estar do outro lado. Quantas vezes alguém já fez, sem saber, um amigo correr ou ter medo para ser machão ou “defender” as cores do seu time?

Não sei porque me lembrei disso hoje, mas lembrei.

Saudades do meu avô… O sujeito que me fez ver um rival apenas como um rival, mesmo sem me pedir isso.

Deve estar lá, longe, olhando e rindo a toa com os gols do Keirrison…

“Viva o Palestra!”, vôzão!"

Rica Perrone http://ricaperrone.wordpress.com/



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